Certa vez fui prestar um concurso. Sai de casa com uma hora de antecedência, peguei minha água e tirei o rótulo, também peguei um lanche, meus documentos, o comprovante de inscrição e me dirigi até o local da prova, tranquilamente.
Chegando lá e, passado um tempo, percebi que tinha esquecido justo as canetas. Longe de casa, a meia hora de começar a prova (com fila para entrar, ninguém poderia levar meu penal a tempo) e sem postos com doação de material ou vendas, tive que procurar por uma boa alma que não se importasse em me conceder uma de suas canetas. Desta forma então percebi meu nervosismo refletido no esquecimento de uma das coisas mais importantes para o ato.
Com esse relato, gostaria de trazer a tona algumas situações de nervosismo vivenciadas no cotidiano do início da minha profissão (e no primeiro passo para a conquista dela), que me faziam pensar se eu era a única a me sentir assim, se para os outros teria sido mais fácil ou normal.
- A primeira situação foi o exame da ordem. Muito mais que a defesa da monografia, a prova me deixou em grande estresse. Me lembro de chorar na semana que antecedeu a prova, após uma simples pergunta dos meus pais. Infelizmente para essa situação não há uma fórmula, cada um vai reagir de um jeito. Algumas pessoas adoecem, outras ficam extremamente irritadas, a imunidade abaixa, a memória apaga... Em contrapartida, sempre existem os que ficam tranquilos e confesso que tiro meu chapéu para eles.
Mas passo alguns conselhos: estude e confie nos seus estudos. Aproveite a faculdade, são apenas 04 meses para cada matéria (quatro, porque mesmo sendo um semestre, temos as férias...) e depois que passa começam a vir outras disciplinas e você não consegue dar a devida atenção o quanto poderia ter dado na época. Também pode não ter mais aquele professor para te ajudar a qualquer momento. Conheça seus limites e explore suas facilidades, aproveite cada momento.
- O atendimento ao primeiro cliente, a gente nunca esquece. Me recordo de proferir as primeiras palavras com a boca trêmula. Da aflição de ser mal interpretada. Sentia a repulsa das pessoas no início, tendo em vista minha idade, muitas acreditavam que eu não entenderia nada e depois acabavam me dizendo seu sentimento inicial. Sempre respeitei isso e às entendo em parte.
Com o tempo o atendimento foi se tornando hábito, aprendi a lidar com as pessoas e saber que cada cliente é um cliente. Aprendi a lidar com situações novas. Não somos hipócritas de dizer que entendemos completamente de todas as áreas de direito, afinal, ele é extremamente amplo. Então, quando eu sei que preciso me aprofundar mais na matéria, explico isto tranquilamente ao cliente, sempre lhe dando a segurança de que estarei buscando a melhor forma de ajudá-lo.
- Outra ocasião foi a minha primeira audiência. Eu pensava que só iriam me perguntar coisas difíceis, que eu não saberia argumentar, fazer perguntas às testemunhas ou talvez conciliar de maneira correta a englobar todos os direitos do meu cliente. Fiquei com medo, eu sabia da responsabilidade que eu tinha e o quanto o cliente confiava em mim: eu iria falar por ele, defender por ele...
Fiz muitos estágios em todo o período da faculdade e em diversas áreas (fica aqui uma dica - a teoria é uma, a prática, é outra. Nada como unir as duas quando se está aprendendo) e sem dúvidas essas experiências me auxiliaram quando comecei a advogar. Ocorre que quando eu estagiava, alguém sempre estava acima de mim para levar “a bronca” caso algo acontecesse. Advogando não, eu sabia que era eu e eu.
Mas nem tudo foi a dificuldade que eu esperava e é incrível como o estudo durante a faculdade faz a diferença. A maioria das audiências foram muito tranquilas, eu soube lidar com cada situação, porque estudei cada caso e o direito aplicável antes de chegar o dia aprazado. E é incrível como a pratica te auxilia com o tempo.
Aqui deixo claro, nem tudo é fácil, mas com estudos e esforços, você consegue.
- O primeiro contato diretamente com o juiz em gabinete foi uma tremedeira só. Temos uma cultura muito triste de que essa profissão é superior a maioria das outras no direito. Mas os juízes são gente como a gente, são pessoas de carne e osso, que também erram, que também tem seus dias bons e ruins e que constantemente estão aprendendo, seja pelo estudo do direito em si ou pelos exemplos processuais diários e que podem, tranquilamente, aprender com você também (e vice versa). Devemos engrandecê-los sim, é claro, por seguirem a carreira da magistratura e pela quantidade de estudo que tiveram para alcançar esta profissão (pois sabemos que a concorrência é enorme).
Mas voltando ao foco... Foi normal! Claro que enfrentei uma barreira de serventuários até chegar a figura do magistrado, e isto te deixa mais nervoso (ou irritado), mas nossa conversa foi muito esclarecedora e me ensinou muito. Confesso que evito ir até o gabinete, mas não me privo mais quando necessito.
- As primeiras contestações que recebi me amarguravam. Eu tinha raiva (raiva mesmo) de ler a crítica adversa e ter de fazer a manifestação à contestação me deixava exausta. Mas passou, aprendi a não deixar o problema do cliente afetar meus sentimentos. Entro no mundo dele para tentar da melhor forma possível resolver seu problema, mas o contrário, não acontece mais. É claro que uma notícia ruim no processo te deixa chateado, mas não a ponto de eu não conseguir ir a luta. Na realidade, tais notícias nos enchem mais de garra.
Enfim... Poderia levantar diversas situações aqui, mas este não é meu objetivo neste texto. Minha intenção é de ajudar os estudantes e colegas novos na profissão (assim como eu) e dizer o que eu queria ouvir na época, mas sentia a maior vergonha de perguntar e demonstrar a minha inexperiência. Talvez as coisas teriam sido mais fáceis (e ainda podem ser) se alguém tivesse me dito que também passou por isso, que não estamos sozinhos nesse mundo de iniciantes e que tudo isso é normal!
Quem aqui nunca teve que dar o primeiro passo? Hoje um colega me disse que inclusive os advogados mais experientes se sentem "jovens advogados" todos os dias, pois cada processo é diferente e todos se deparam com novas situações diariamente.
Tenho certeza de que muitos terão diversas experiências para passar, para que possamos aprender mais.