Foi "brincadeira", diz a desembargadora Marília Castro Neves, do
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, sobre seus comentários a respeito
do deputado Jean Wyllys (Psol-RJ). Segundo o parlamentar, a magistrada
disse num grupo no Facebook que ele deveria ser executado, por ser a
favor de uma "execução profilática". "O problema da esquerda é o mau
humor", se defende a desembargadora.
Na mesma entrevista ao jornal Folha de S.Paulo em que
relatou as declarações da desembargadora, Jean Wyllys, reeleito deputado
em outubro, disse que não vai tomar posse. Vai deixar o Brasil, diante
das ameaças que vem recebendo. Uma das pessoas que ele diz contribuir
para o clima de ódio e antagonismo que encontra nas ruas é a
desembargadora Marília Castro Neves. Para ela, no entanto, a esquerda
não tem senso de humor.
“A questão é a seguinte: a esquerda é dona de um mau humor profundo", analisa a desembargadora, em entrevista à ConJur. "Isso foi falado no meu Facebook particular com um amigo, que não era magistrado. E o nome dele [Jean Wyllys]
surgiu aleatoriamente na conversa. Eu não sugeri nada de morte dele.
Meu amigo é que sugeriu que se houvesse... porque naquela época, tem uns
três anos, se discutia intervenção militar, começaram a falar de
intervenção militar, se os militares voltassem, o que iriam fazer. E
esse meu amigo, de brincadeira – porque era tudo brincadeira no Face,
até porque eu só usava o Face naquela época para brincadeira mesmo –,
falou ‘mas quem você acha que seria fuzilado?’. Aí eu falei, de
brincadeira também: ‘Quem não escaparia de um fuzilamento profilático eu
acho que seria o Jean Wyllys’. Mas só isso. Não sugeri que ele fosse
morto”, garante.
Na entrevista à Folha, publicada na quinta-feira (24/1), Jean relatou o seguinte:
“A
violência contra mim foi banalizada de tal maneira que Marília Castro
Neves, desembargadora do Rio de Janeiro, sugeriu a minha execução num
grupo de magistrados do Facebook. Ela disse que era a favor de uma
execução profilática, mas que eu não valeria a bala que me mataria e o
pano que limparia a lambança. Na sequência, um dos magistrados falou que
eu gostaria de ser executado de costas. E ela respondeu: ‘Não, porque a
bala é fina’. Veja a violência com homofobia dita por uma
desembargadora do Rio de Janeiro. Como é que posso imaginar que vou
estar seguro nesse estado que represento, pelo qual me elegi?”
Na
opinião da desembargadora, ela está sendo discriminada por suas
opiniões, o que seria um desrespeito à sua liberdade de
expressão. “Dizer, como eu disse, que o Jean Wyllys não vale a bala que o
mate e o pano que o limpe, é uma opinião. Você vai me condenar pela
minha opinião, por que eu não gosto do Jean Wyllys? Eu não gosto dele.
Eu não quero que ele morra, eu não desejaria a morte dele, eu jamais
promoveria um ato sequer. E se ele fosse ser julgado por mim, por outra
ação qualquer, isso não afetaria o meu julgamento em relação a ele, o
meu desgostar em relação à atuação dele como parlamentar, como pessoa,
como ser humano. O que eu examino não é o nome da pessoa, é o direito
que me põem”, garante.
Interpretação de texto
De acordo com a magistrada, o deputado federal faz declarações irônicas, mas, quando é alvo delas, diz que foram feitas a sério. Nesta sexta-feira (25/1), Marília divulgou no Facebook que contribuirá com uma vaquinha iniciada pela deputada e militante da rede social Carla Zambelli (PSL-SP). Ela foi condenada a dois anos de prisão, mais 620 dias-multa, por ter associado Jean Wyllys a pedofilia. A pena foi convertida em prestação de serviços à comunidade.
De acordo com a magistrada, o deputado federal faz declarações irônicas, mas, quando é alvo delas, diz que foram feitas a sério. Nesta sexta-feira (25/1), Marília divulgou no Facebook que contribuirá com uma vaquinha iniciada pela deputada e militante da rede social Carla Zambelli (PSL-SP). Ela foi condenada a dois anos de prisão, mais 620 dias-multa, por ter associado Jean Wyllys a pedofilia. A pena foi convertida em prestação de serviços à comunidade.
“Ele [Jean Wyllys]
viu nisso uma forma de se promover, porque ele disse coisas muito
piores de outras pessoas. Ele cuspiu na cara do Bolsonaro. Ele fez uma
ameaça, que foi claramente uma ironia. Leda Nagle perguntou a ele o que
ele faria se o mundo acabasse amanhã. Ele respondeu: ‘Eu usaria todas as
drogas ilícitas e transaria com todo mundo’. E aí foi questionado sobre
isso, e ele disse: ‘Essas pessoas não percebem que é ironia?’. Quando é
contra ele, é sério. Quando é dele para os outros, é ironia. O problema
da esquerda é o mau humor”, insiste.
Ela nega que tenha
contribuído para o clima de homofobia e violência relatados pelo
deputado. E duvida que ele seja sincero quanto aos motivos alegados para
deixar o país.
“Não sei qual é a razão pela qual ele está saindo.
Eu posso até ter uma opinião a respeito, eu posso imaginar a razão, mas
acredito que não é essa que ele declarou. Espero que ele seja muito
feliz nessa opção, de sair do pais, e que em breve se descubra a razão
real da saída dele”, afirma.
Marília foi marcada no Facebook em um compartilhamento da entrevista que Wyllys deu à Folha.
O juiz do Trabalho Ney Rocha comentou na postagem: “Pra mim isso tem um
misto de vitimismo e fuga. Está se fechando o cerco ao tal Adélio que
deu a facada no Bolsonaro. Jean Wyllys seria um dos possíveis contatos
de Adélio”. A magistrada respondeu: “Ney Rocha, eu tenho certeza
absoluta disso”.
À ConJur, Marília Castro Neves
negou que tivesse acusado Jean Wyllys de ligação com a facada em
Bolsonaro. “O ‘certeza absoluta’ não era em relação a isso. Era em
relação a algo que o Ney Rocha tinha falado antes. Eu não posso dizer
que ele esteja envolvido com a facada. Eu não sei. Não tenho a menor
ideia.”
"Não sou especialista"
A desembargadora diz que não é homofóbica e já até abrigou um casal gay em casa. “A minha questão é a seguinte: não consigo identificar as pessoas por cor de pele, orientação sexual, credo. Eu tinha um assessor negro e só me dei conta que ele era negro quando eles fizeram uma brincadeira entre eles”.
A desembargadora diz que não é homofóbica e já até abrigou um casal gay em casa. “A minha questão é a seguinte: não consigo identificar as pessoas por cor de pele, orientação sexual, credo. Eu tinha um assessor negro e só me dei conta que ele era negro quando eles fizeram uma brincadeira entre eles”.
A desembargadora nega que tenha divulgado
mensagens de ódio em redes sociais. Recentemente, compartilhou uma
notícia sobre a deputada democrata norte-americana Alexandria
Ocasio-Cortez, Marília escreveu: “Socialistas são doentes, são
psicopatas, devem ser segregados do convívio social!”.
Para
Marília, é esquerda quem dissemina ódio. Como exemplo, citou uma
palestra que disse ser do reitor da UFRJ, Roberto Leher — na verdade, a
palestra é de Mauro Iasi, candidato a presidente pelo PCB em 2014. Nela,
Iasi recita o poema “Perguntas a um homem bom”, do dramaturgo alemão
Bertolt Brecht. Com base nele, diz que oferecerá à direita e ao
conservadorismo uma “boa bala” e uma “boa cova”.
Questionada pela ConJur
se o discurso de Iasi não era semelhante, na mensagem, à publicação
dela sugerindo o fuzilamento de Wyllys, Marília negou veementemente e
retomou os ataques à esquerda.
“Claro que não. Imagina. Não estou
mandando matar ninguém. Há um parecer médico, que viralizou na internet,
dizendo que o esquerdismo é uma doença mental. Foi um médico, não fui
eu que disse." Não se tem notícia desse laudo médico.
“A senhora considera que o esquerdismo é mesmo uma doença mental?”, perguntou a ConJur.
“Eu não considero nada. Eu não sou médica, não sou especialista. Eu
acho que eles são perigosos. Eu acho que socialistas com esse tipo de
pensamento... As pessoas que dizem que nós, conservadores, temos que ser
tratados à bala, têm que ser segregadas da sociedade. Essas pessoas são
perigosas. Pessoas que invadem fazendas, lideradas pelo Boulos [líder de um movimento por moradia], pelo Stédile [líder do MST], são criminosos”, respondeu a desembargadora.
Revista Consultor Jurídico, 25 de janeiro de 2019, 22h00
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